Desde o fim de abril, quando a ministra-chefe da Casa-Civil Dilma Rousseff anunciou que estava com um tipo de câncer no sistema linfático, sua presença é uma constante nos holofotes da mídia. A ela, não foi assistido o direito que cabe a toda e qualquer pessoa que se descobre com uma doença de tal gravidade: o recolhimento e o silêncio.
A economista de 61 anos tem sido vista, depois da descoberta de sua doença, sob o único e exclusivo ângulo do animal político. As perguntas são sempre as mesmas: O câncer (pequeno linfoma que surgiu em uma das axilas da ministra) implicará na sua desistência da disputa presidencial nas próximas eleições? Se a doença progredir, pode-se dizer que sua candidatura à sucessão de Lula será fragilizada? Ou será que a enfermidade que acomete Dilma Rousseff vai humanizar sua campanha?
Assim como as perguntas, a resposta é sempre a mesma: Somente as pesquisas poderão indicar o futuro político da pré-candidata do governo e se esta doença aumentou a sua popularidade. É natural e totalmente compreensível que Dilma tenha medo das consequências que isso trará para o andamento da sua campanha. Afinal, concorrer à Presidência da República e melhor, suceder Lula, o presidente de maior popularidade da história política do Brasil, não é lá uma das tarefas mais fáceis para uma pessoa que nunca enfrentou as urnas.
Após ser substituída por Antônio Palocci, Dilma Rousseff assumiu o cargo de ministra-chefe da Casa-Civil em junho de 2005. A partir de então, tornou-se o “braço direito” do presidente Lula. Nome melhor não haveria, apesar das diferenças aparentes, para dar continuidade ao mandato do PT.
Até pouco tempo antes de comunicar à imprensa que estava com câncer, a economista mineira demonstrava não estar preocupada com a corrida presidencial, evitava, sempre que questionada, falar sobre as eleições do ano que vem. Os repórteres insistiam, Dilma demonstrava-se irredutível.
E por falar em eleições presidenciais de 2010, o presidente Lula tem feito “das tripas coração” para que sua candidata chegue até a campanha tão popular quanto ele próprio. Apesar de Dilma evitar falar sobre isso, Lula fazia questão de deixar bem claro a sua predileção por ela dentre os seus aliados políticos. Talvez pela sobriedade e seriedade que a “mulher Dilma” transmite, ou talvez seja pela sinceridade e honestidade que a “ministra Dilma” confere. Lula é enfático sempre que o perguntam sobre “a política Dilma”.
Se o linfoma de Dilma Rousseff é benéfico ou maléfico para o seu futuro político, ainda não se sabe. Mas o que todos sabem é que, infelizmente, um câncer exige cuidados especiais. Mais cedo ou mais tarde a figura de Dilma não será mais estampada nas manchetes dos jornais e nem sua imagem será vista frequentemente nos telejornais. O tratamento dessa doença com certeza fará com que a ministra, pelo bem de sua saúde, reduza suas aparições públicas e isto, de maneira geral, enfraquecerá a “Dilma política”.
Talvez o discurso de Lula tenha que mudar daqui para a frente. Não acredito que a melhor solução para resolver esse impasse seja a dramatização do discurso político ou o uso da doença para conquistar votos. Muito mais importante para a campanha do que a doença é o sucesso do PAC, que é (ou pelo menos deveria ser) o maior trunfo da campanha da ministra.
A doença é sim, um fator preponderante na campanha da futura presidenciável, mas as pessoas não devem creditar seu voto apenas no sentimento de humanidade. Dilma tem muito mais virtude e história política e não é por causa de uma doença que todos os méritos dela serão esquecidos. A doença deve ser tratada como coadjuvante e não como protagonista dessa campanha.
"Se a questão da saúde de Dilma for encaminhada positivamente, reforçará a imagem de que ela venceu a ditadura, a tortura e o câncer", afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Apesar de toda a confiança que o presidente Lula e seus aliados têm na ministra, não dispor de um “plano B”, seria imprudência demais.
* Texto que escrevi em maio de 2009 após a divulgação de que a então Ministra da Casa-Civil, Dilma Rousseff, estaria com câncer. Ainda bem que a sucessora de Lula está recuperada e totalmente apta para sucedê-lo e dar continuidade ao seu trabalho de maneira íntegra e responsável. O Presidente Lula não precisou dispor de um "Plano B". =)