segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desçam do ringue, apresentem propostas...


Troca de ameaças na TV, é nisso que se resume o horário eleitoral gratuito este ano, infelizmente. Os eleitores não têm como votar em quem apresenta a melhor proposta, porque o jeito de se fazer política no Brasil hoje exclui essa possibilidade.

O eleitorado brasileiro credita seu voto a quem tem o nome menos envolvido em escândalos e, por consequência, acusa mais, estratégia do "vou te vencer pelo cansaço". Foi desta forma no primeiro turno, está acontecendo com maior força no segundo turno e parece que vai ser assim para sempre. Ou pelo menos, até enquanto os eleitores derem ouvidos às estratégias sujas dos políticos de trocarem insultos e ofensas, como se estivessem numa arena; como se o eleitor fosse o prêmio pela "qualidade" e grau de alcance do xingamento e da calúnia. Abra os olhos, eleitor. Voto é coisa séria!

Dilma Rousseff: Os rumos da Campanha após a descoberta do câncer



Desde o fim de abril, quando a ministra-chefe da Casa-Civil Dilma Rousseff anunciou que estava com um tipo de câncer no sistema linfático, sua presença é uma constante nos holofotes da mídia. A ela, não foi assistido o direito que cabe a toda e qualquer pessoa que se descobre com uma doença de tal gravidade: o recolhimento e o silêncio.

A economista de 61 anos tem sido vista, depois da descoberta de sua doença, sob o único e exclusivo ângulo do animal político. As perguntas são sempre as mesmas: O câncer (pequeno linfoma que surgiu em uma das axilas da ministra) implicará na sua desistência da disputa presidencial nas próximas eleições? Se a doença progredir, pode-se dizer que sua candidatura à sucessão de Lula será fragilizada? Ou será que a enfermidade que acomete Dilma Rousseff vai humanizar sua campanha?

Assim como as perguntas, a resposta é sempre a mesma: Somente as pesquisas poderão indicar o futuro político da pré-candidata do governo e se esta doença aumentou a sua popularidade. É natural e totalmente compreensível que Dilma tenha medo das consequências que isso trará para o andamento da sua campanha. Afinal, concorrer à Presidência da República e melhor, suceder Lula, o presidente de maior popularidade da história política do Brasil, não é lá uma das tarefas mais fáceis para uma pessoa que nunca enfrentou as urnas.

Após ser substituída por Antônio Palocci, Dilma Rousseff assumiu o cargo de ministra-chefe da Casa-Civil em junho de 2005. A partir de então, tornou-se o “braço direito” do presidente Lula. Nome melhor não haveria, apesar das diferenças aparentes, para dar continuidade ao mandato do PT.

Até pouco tempo antes de comunicar à imprensa que estava com câncer, a economista mineira demonstrava não estar preocupada com a corrida presidencial, evitava, sempre que questionada, falar sobre as eleições do ano que vem. Os repórteres insistiam, Dilma demonstrava-se irredutível.

E por falar em eleições presidenciais de 2010, o presidente Lula tem feito “das tripas coração” para que sua candidata chegue até a campanha tão popular quanto ele próprio. Apesar de Dilma evitar falar sobre isso, Lula fazia questão de deixar bem claro a sua predileção por ela dentre os seus aliados políticos. Talvez pela sobriedade e seriedade que a “mulher Dilma” transmite, ou talvez seja pela sinceridade e honestidade que a “ministra Dilma” confere. Lula é enfático sempre que o perguntam sobre “a política Dilma”.

Se o linfoma de Dilma Rousseff é benéfico ou maléfico para o seu futuro político, ainda não se sabe. Mas o que todos sabem é que, infelizmente, um câncer exige cuidados especiais. Mais cedo ou mais tarde a figura de Dilma não será mais estampada nas manchetes dos jornais e nem sua imagem será vista frequentemente nos telejornais. O tratamento dessa doença com certeza fará com que a ministra, pelo bem de sua saúde, reduza suas aparições públicas e isto, de maneira geral, enfraquecerá a “Dilma política”.

Talvez o discurso de Lula tenha que mudar daqui para a frente. Não acredito que a melhor solução para resolver esse impasse seja a dramatização do discurso político ou o uso da doença para conquistar votos. Muito mais importante para a campanha do que a doença é o sucesso do PAC, que é (ou pelo menos deveria ser) o maior trunfo da campanha da ministra.

A doença é sim, um fator preponderante na campanha da futura presidenciável, mas as pessoas não devem creditar seu voto apenas no sentimento de humanidade. Dilma tem muito mais virtude e história política e não é por causa de uma doença que todos os méritos dela serão esquecidos. A doença deve ser tratada como coadjuvante e não como protagonista dessa campanha.

"Se a questão da saúde de Dilma for encaminhada positivamente, reforçará a imagem de que ela venceu a ditadura, a tortura e o câncer", afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Apesar de toda a confiança que o presidente Lula e seus aliados têm na ministra, não dispor de um “plano B”, seria imprudência demais.


* Texto que escrevi em maio de 2009 após a divulgação de que a então Ministra da Casa-Civil, Dilma Rousseff, estaria com câncer. Ainda bem que a sucessora de Lula está recuperada e totalmente apta para sucedê-lo e dar continuidade ao seu trabalho de maneira íntegra e responsável. O Presidente Lula não precisou dispor de um "Plano B". =)