terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um parêntese

- ... Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto é o meu coração. -
"Poema de Sete Faces", de Carlos Drummond de Andrade.

Realmente a rima não adiantaria de nada. Meu coração é do tamanho do mundo e o que tem dentro dele, maior do que dois mundos!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Crisly por Duda

Por Mais estrada debaixo dos pés

Por entender que vivemos com e para o outro, Cris tem a péssima mania de se preocupar com a opinião alheia. Sei que pessoas sensatas e inteligentes normalmente se importam, desde que isso não imponha amarras, nem as impeça de voar. É de ar que ela padece. Dessa vez, eu não vou deixar casas, livros, sapatos ou qualquer coisa dessa ordem, porque Cris precisa é de folgas no meio do amontoado de valores e conceitos éticos e morais que se apertam dentro dela. Ninguém vive impunemente e há que se entender que a gente só tem coragem se tiver medo primeiro. O que determina o salto não é a garantia de segurança da corda, é a ousadia de se abandonar diante do precipício. A minha herança para Cris não é o pulo ou a aventura, mas a coragem. Quero deixar meu invisível par de asas. Menos culpa sobre os ombros e mais estrada debaixo dos pés. Que o medo seja apenas trampolim para saltos cada vez maiores. Que a vida lhe seja leve e que jamais lhe falte a fé necessária para continuar seguindo em frente.

Maria Eduarda Araújo


PS: Só os verdadeiros amigos conseguem esta proeza: a de lerem-se perfeitamente. E ela ela é "mestra" em compreender cada centímetro do que acontece dentro de mim.

A Idade Média é aqui*


Há algum tempo, um fato interessante me ocorreu: minha prima de 11 anos perguntou-me como é possível uma mulher engravidar. “Como o bebê entra na barriga da moça”, perguntou ela. Eu tentei explicá-la da melhor maneira possível. Foi uma tarefa bastante complicada devido à facilidade de informações de que dispõe a maioria das pessoas, incluindo as crianças.
Não é muito difícil vermos nos dias de hoje, apesar do advento da internet e da explosão massificante dos veículos de comunicação, crianças como a minha prima. Afinal, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a fase infantil dura até os dezessete anos. Pessoas que apenas passam por esta fase da vida sem vivê-la de fato, têm uma forte predisposição a apresentar distúrbios psicológicos decorrentes de um amadurecimento precoce.
Não muito raramente encontramos crianças que têm sua infância interrompida ou por ter que trabalhar muito cedo ou por terem sofrido algum tipo de abuso sexual, e é aí que reside grande parte das mazelas que tomam conta da sociedade. Crianças em condição de rua, aumento da criminalidade infantil e o aumento do consumo de drogas entre crianças e jovens, são as principais consequências de uma infância interrompida por violência sexual.
E por que não falar da violência de ordem sexual cometida contra crianças da mesma idade ou de idade inferior à da minha prima? E pior do que isso, o estuprador – ou aliciador – geralmente reside na casa da criança. Quando não são os pais, são irmãos, tios ou padrastos. Crimes desta magnitude poderiam ser condenáveis à prisão perpétua. Contribuir para a formação de indivíduos traumatizados e que podem ter um forte motivo para ingressar no mundo do crime é algo que não merece perdão.
Não estou falando do perdão da igreja ou dos familiares e sim do perdão da sociedade. É inadmissível que, na época de hoje, ainda existam marginais que praticam sexo com crianças. É inaceitável ver que as cadeias públicas não conseguem impedir que tais pessoas voltem ao convívio social e continuem praticando atrocidades deste nível.
Em Pernambuco um caso de abuso sexual teve repercussão diferente daquela que estamos habituados a ver em nossa sociedade: a incompreensão transformou-se em anátema
devido à incerteza do futuro de uma menina de nove anos. A criança foi molestada sexualmente por seu padrasto e engravidou. Ora, não é muito difícil prever o que iria acontecer com esta menina caso a gravidez fosse levada a diante. A família da menina optou pela sua vida e achou por bem que fosse feito um aborto. Aborto este, garantido pela Constituição Federal.
Com um discurso que já não apresenta efeitos e nem contribui para que o abortamento seja evitado, a Igreja Católica do Estado, na pessoa do Arcebispo de Olinda e Recife, condenou a interrupção da gravidez desta criança e excomungou, (prática da Igreja Católica muito comum na Idade Média, destinada à punição de pessoas hereges e irreligiosas), em nome da “defesa pela vida”, a mãe da menina e os médicos responsáveis por devolver a vida e a infância desta criança.
Será que esta pequenina sabia o que estava lhe acontecendo? Será que ela tinha consciência do que iria mudar na sua vida com a possível (ou improvável) chegada de mais um bebê para ela cuidar além de suas bonecas? Com certeza não. Se por obra do destino ela conseguisse sobreviver a esta gravidez e a este trauma, o que é praticamente impossível, pois o corpo de uma criança de nove anos não tem condições de gerar um filho, seria mais uma criança cuidando de outra e mais uma família desestruturada se formaria.
Simplesmente teríamos a troca de uma vida pela outra ou de nenhuma vida por nenhuma. Que fé é esta? Que dogmas são estes, que além de impedir que médicos exerçam sua profissão, os fazem pensar que estão sendo infiéis às leis de Deus? O que os médicos fizeram foi impedir a proliferação das mazelas sociais, e isto é política pública. O que a igreja fez sinceramente não teve muita importância. Não é excomungando todas as pessoas que trabalham para tentar implementar políticas sociais que vai se conseguir êxito na luta pelo direito à vida. O aborto não é uma prática acertada quando feito de maneira banal, mas em um caso como o da menina pernambucana é a melhor, mais sábia e irrefutável atitude a ser tomada.

* Texto também escrito na época da graduação, só que este é de 2009.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A luz dos teus olhos...



Nalgum Lugar
Nalgum lugar em que eu nunca estive
Alegremente além de qualquer experiência,
Teus olhos têm o seu silêncio:
No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
Embora eu tenha me fechado, como dedos, nalgum lugar
Me abres sempre pétala por pétala
Como a primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente)

A sua primeira rosa, sua primeira rosa
Ou se quiseres me ver fechado, eu e minha vida

Nos fecharemos belamente, de repente,
Assim como o coração desta flor imagina

A neve cuidadosamente descendo em toda parte
Nada que eu possa perceber nesse universo iguala
O poder de tua intensa fragilidade: cuja a textura
Compele-me com a cor de seus continentes
Restituindo a morte e o sempre cada vez que respiras
Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre,

Só uma parte de mim compreende que a luz
Dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.


E.E. Culmmings

PS: Perfeição chegou nestes versos, ficou e fez morada. Magnífico!

Do amoroso esquecimento




Eu, agora - que desfecho! - Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo de lembrar que te esqueci?

Mário Quintana



Ps: Achei tão lindo que quis postar. Nada pessoal, hein?!

domingo, 15 de agosto de 2010

Do que realmente importa


Depois da aula elas reúnem-se no protótipo de restaurante da esquina, próximo ao local onde trabalham e estudam. E em meio a refrigerantes e batatas fritas, conversam sobre suas vidas, suas famílias, seus amores. Todos os dias, aquelas três moças sentam no mesmo lugar, veem as mesmas pessoas e conversam até sentirem que não existe mais ninguém por perto, como se o mundo se resumisse às gargalhadas felizes de todos os dias depois do expediente.
São tão diferentes e tão parecidas as três. Cada uma com seu ponto de vista, cada uma com seu jeito de ser. As três se completam. Tanto que quando uma não se faz presente, não liga e nem dá notícias, é como se as outras duas, naquele momento, fossem imperfeitas.
Antes eram só duas: a “baixinha com voz de criança” e a “gordinha baixinha que mora longe”. Depois a vida tão generosa trouxe para perto das duas a última integrante da trilogia. E as outras duas que antes quase se completavam, encontraram de fato a parte que lhes faltava.
E elas são felizes. São felizes juntas sentadas à mesa. São felizes quando estão distantes e quando uma ouve a voz da outra ao telefone. São felizes quando brigam e fazem as pazes e são felizes mais ainda porque sabem que essa cumplicidade será eterna e atemporal mesmo quando suas vidas tomarem rumos opostos e as diferenças insistirem em querer separá-las, dividi-las. São cúmplices, são diferentes, são parecidas, inseparáveis e, sobretudo, têm guardado dentro de si mesmas o mais nobre dos sentimentos: a amizade. E cada minuto que passam juntas é precioso. Que bom que a vida as aproximou...

Meu amor, meu bem, me ame




Meu amor, meu bem, me ame, não vá para Miami
Meu amor, meu bem, me queira
Tô solto na buraqueira, tô num buraco
Fraco como galinha d'Angola
Meu amor, meu amor manda:
Não vá para Luanda, Não vá para Aruba
Se eu descer, você suba aqui no meu pescoço, faça dele seu almoço
Roa o osso e deixe a carne
Meu amor, meu bem,repare no meu cabelo
No meu terno engomado, no meu sapato
Eu sou um dragão de pêlo, eu cuspo fogo
Não esconda o jogo ou berro no ato
Meu amor, meu bem, me leve de ultraleve
De avião, de caminhão de zepelim
Meu amor, meu bem, sacie, mate minha fome de vampiro,
Senão eu piro
Viro Hare-Krishna, hare, hare, hare
Não me desampare ou eu desespero
Meu amor, meu bem, me espere até que o motor pare
Até que marte nos separe
Meu amor ele é demais, nunca de menos
Ele não precisa de camisa-de-vênus
Ouça o que eu vou dizer, meu bem me ouça:
O que ele precisa é de uma camisa-de-força

Você é a minha cura, se é que alguém tem cura
Você quer que eu cometa uma loucura?
Se você me quer, cometa!

Zeca Baleiro

PS: E eu esqueceria dele? Nunca, jamais. Perfeita música, de letra inteligente, como tudo o que Baleiro escreve.

domingo, 8 de agosto de 2010

À ele


O mais inteligente, mais elegante, o que tem a voz mais bonita, o mais beijoqueiro e sensível de todos os pais do mundo: O MEU PAI, meu amigo e meu exemplo de vida.


Os meus "velhos" são tudo o que eu tenho de mais precioso e não é só porque hoje é o dia dos pais, aquele dia em que os filhos saem em busca do melhor presente, do melhor agrado. É porque ele é o melhor pai que alguém poderia ter e eu o amo com ou sem presente, com ou sem dia dos pais.



sábado, 7 de agosto de 2010

Iniludível


Introspectiva, foi assim que acordei hoje. Dormi bem ontem, tive um sono tranquilo, mas logo que abri meus olhos, dei de pensar no quanto somos insignificantes e permaneci como quem estivesse presa, sem saída, sem liberdade ali, deitada na minha cama.
Uma angústia descomedida e a pior sensação de impotência que eu já experimentei em toda a minha vida tomaram conta de mim naquela altura da manhã. Não sabia de onde tinham vindo todos estes sentimentos sem sentido, quando me vi deitada e sem forças para colocar os pés no chão e chorei. Chorei sem saber o porquê de minhas lágrimas e daquela dor que insistia em tomar conta do meu peito.
“O que ‘diabos’ é isso, meu Deus, porque estou me sentindo assim?” Pensei. De repente, me veio a resposta de toda essa inquietação que me afligiu nos primeiros minutos do meu dia: Medo. Estava atemorizada simplesmente por estar viva, e viver é tão complexo. A gente vive para morrer e espera pela morte como se ela fosse a vida. Ela, “a indesejada das gentes”, que pode ser “dura ou caroável”, como certa vez disse um poeta. Ela, que não escolhe cor, status social e nem sexo.
Tenho aversão à ideia de que vou morrer um dia ou de que vou ver sem vida as pessoas que amo e isso me deixa irrevogavelmente triste de vez em quando. Que desça “a noite com seus sortilégios” e traga coisas boas, vibrações boas, pensamentos bons e um amanhã de encantamentos e sorrisos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Muda, que o medo é um modo de fazer censura" *






Vivemos em um mundo onde imperam as desconexões sociais. Isso se deve ao fato de a distribuição de renda ser desigual entre as classes desta sociedade: muitos com pouco e poucos com muito.
A globalização, ao surgir como nova ordem econômica mundial, propõe uma integração entre os segmentos da sociedade. Mas me pergunto: Como esta integração pode ser feita se as diferenças são tão grandes? Muitos dormem e acordam sem, ao menos, ter o que comer durante todo o dia. Estas mesmas pessoas que não comem, não têm acesso a uma educação digna que os auxilie a formar seus pontos de vista.
Dentro dessas perspectivas surgem os meios de comunicação que, segundo o senso comum, são os difusores dos problemas sociais. Mas como estes problemas e estas desigualdades podem ser difundidas e, melhor, solucionadas, se nem todos os que desejam usufruir destes meios têm essa possibilidade?
A mídia no Brasil hoje está nas mãos de algumas famílias brancas e ricas. E esta é a mesma mídia conservadora e de direita que mantém, em pleno século 21, a sua "gloriosa" tradição de ser contrária à distribuição de renda e ao desenvolvimento intelectual da população do País. Será que estas pessoas, de certa forma, não mostram sua visão de mundo, seus pontos de vista e faz com que a maior parte da população - aqueles que só dispõem da televisão, por exemplo, como meio de manterem-se informados - aceitem essas visões de mundo como indiscutíveis e inquestionáveis?
Cabe a nós que temos acesso a uma educação mais reflexiva, que temos o privilégio de dispor de inúmeras possibilidades de informação (ao contrário da maioria da população) não aceitar tudo o que a mídia mostra como sendo "verdade absoluta". Devemos, antes de mais nada, investigar a veracidade da informação e só assim tirar nossas conclusões.
Não é louvável que vejamos as pessoas sendo alienadas, com medo de expor suas próprias opiniões por conta da carência de informações de qualidade e achar que tudo ocorre porque somos uma minoria privilegiada.

* Texto bem "café com leite" escrito no começo da graduação, lá pelos idos de 2006. Melhorei um pouquinho, vá lá. Olha aí porque é ruim não ser criativo... Esse post explica o post anterior: A pressa de querer postar algo e se achar na obrigação de ter que postar. Está aí. Homenagem à Isa Dias. Ela amou... rsrsrs

O Ócio

Não saber o que escrever. Na verdade, não ter ideia sobre o que se vai escrever é a pauta do dia. Há algum tempo venho padecendo desta doença que tem me tirado do sério e me deixado triste e frustrada.
Acho que, como sempre, tenho me cobrado demais. Cadê a tua inspiração, menina? onde ela foi parar? tu tens que escrever, cria uma pauta, olha para uma foto e I-N-V-E-N-T-A.
Infelizmente não tenho essa facilidade. Por isso estou aqui, dissertando sobre o meu ócio não criativo. É "balela", é "blábláblá" mas é o que temos para hoje. Meus neurônios estão "tostados", não sai nada. Se Deus quiser, amanhã escreverei um livro ou uma "quase bíblia" de coisas interessantes, mas hoje, especialmente hoje, não dá, não consigo. That's all.

domingo, 1 de agosto de 2010

"Vamos celebrar a estupidez humana"




O maior protesto contra a intolerância e a desigualdade já produzido em forma de música:

Perfeição
Composição: Renato Russo

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos,
Covardes, estupradores e ladrões...
Vamos celebrar a estupidez do povo

Nossa polícia e televisão, vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas, as crianças mortas

Celebrar nossa desunião...
Vamos celebrar Eros e Thanatos, Persephone e Hades

Vamos celebrar nossa tristeza, vamos celebrar nossa vaidade...
Vamos comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado

Todos os mortos nas estradas,os mortos por falta de hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça: a ganância e a difamação

Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos
Comemorar a água podre e todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros..
Nosso castelo de cartas marcadas

O trabalho escravo, nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias- é a festa da torcida campeã...
Vamos celebrar a fome,não ter a quem ouvir; não se ter a quem amar

Vamos alimentar o que é maldade, vamos machucar o coração...
Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo que é gratuito e feio, tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional, a lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade, comemorar a nossa solidão...
Vamos festejar a inveja, a intolerância, a incompreensão

Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada...
Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso

Nosso descaso por educação, vamos celebrar o horror de tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora, já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção...

Venha!Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta, chega de maldade e ilusão
Venha!O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera - Nosso futuro recomeça -
Venha, que o que vem é Perfeição!...