quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quando o cuidado é demais...

Sou filha única. Não por opção dos meus pais, mas por causa da vida. Minha mãe se casou com meu pai aos 27 anos, todos já a julgavam “velha demais” para casar. Para ter filhos, então, nem se fala. Até ela própria dizia que se fosse mãe, só teria um filho. E assim foi. Nasci em abril de 1988, um ano depois do casamento de meus pais. Depois disso, eles tentaram ter mais um filho. Minha mãe engravidou pela segunda vez, mesmo contra a sua vontade. Ela não gostava de engravidar e, depois do meu nascimento, tinha desistido da ideia. Minha irmã não chegou a nascer e o medo de mamãe realmente tinha fundamento: faltou pouco ou quase nada para que ela morresse de parto. Com dois anos de idade, eu ia ser órfã. Felizmente isso não aconteceu.
Acho que a superproteção deles aumentou com tudo isso. Mas esta história aconteceu quando eu tinha dois anos. E antes? Comecei a andar com um ano e meio. Meus primos, que tinham essa mesma idade, já andavam e até corriam. Meu pai tinha medo de me colocar no chão, tinha medo que eu caísse. Eram tantos medos da parte deles, que eu acho que por isso me tornei tão medrosa, tão insegura.
Meus pais sempre foram muito “cuidadosos”, como eles gostam de falar. Quando eu era criança, isso não me incomodava tanto. Depois que cresci, a coisa fugiu da normalidade. Todo mundo diz que isso é "coisa de pai que só tem um filho". Não acho que seja assim. Tenho amigos que também são filhos únicos e que não têm os pais tão "neuróticos" quanto os meus. Lembro-me que até uns seis anos atrás (hoje tenho 22), mamãe me apresentava às suas amigas como “meu bebê”. Como isso me chateava, meu Deus. Ela dizia: “minha filha, para os pais os filhos nunca crescem”. Ah, como eu queria que ela percebesse que eu já tinha 16 anos, que eu já não era mais uma criança.
Desde que nasci, moro em um município não muito grande. Na minha adolescência queria estudar na capital, respirar novos ares, conhecer novas pessoas. Muitas amigas minhas estudavam no Recife. Comigo era diferente. Meu pai me julgava muito criança para estudar longe de casa. Tinha medo que algo ruim acontecesse comigo no caminho de casa para a escola.
Passei toda a minha infância e adolescência ouvindo de todo mundo que eu era desastrada. Nem brincar de “queimado” eu podia, minha mãe não deixava, não queria que eu corresse para não cair e quebrar um braço. Uma vez, no jardim de infância, eu caí de um balancinho da escola, na hora do recreio. Minha mãe pensou que eu ia me “desmantelar” por causa da queda. A minha professora da época foi demitida. Mamãe exigiu que a escola o fizesse.
Aos 17 anos, entrei na faculdade. A preocupação maior dos meus pais não era o valor da mensalidade ou se eu ia me identificar com o curso. Eles tinham medo de que acontecesse alguma coisa comigo no trajeto. No começo, me pediram muito para eu mudar de faculdade e escolher uma que fosse mais perto de casa. Mas a ideia de liberdade me agradava tanto. Não que eu fosse fazer coisas que os pudessem envergonhar, longe de mim. Mas o sentimento de estudar em um lugar longe de casa, longe dos olhos deles, me fazia tão bem.
Às vezes me sinto tão criança, tão imatura aos 22 anos de idade. Sou tão dependente da minha mãe que é como se ela fosse inerente a mim, como se fosse uma parte do meu corpo. Não sei fazer nada contra a vontade dela e isso me incomoda. Nunca vivi aventuras, nem saí escondida dos meus pais. Creio que isso deve ser uma maneira de retribuir o zelo que eles têm por mim. Sim, zelo. Acho que essa é a palavra mais adequada.
Ainda assim, tenho medo da velhice. Tenho medo de não saber caminhar com minhas próprias pernas. Tenho medo do que pode me acontecer caso os meus pais me faltem. Eu queria ser forte, imponente, decidida. Queria que esse lado “filhinha do papai” desaparecesse completamente de minha personalidade. Acho que isso vai demorar. A culpa não é minha. Cuidado excessivo deixa a gente meio alienada, meio desligada da vida. Será que com 50 anos eu vou me sentir do jeito que me sinto hoje? Essa sensação de impotência me incomoda.

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